Meu amor é uma mentira,
Uma bala que não atira
Num alvo desconhecido;
É luz de estrela morta,
Medida de régua, torta,
Na cara do iludido.
Meu querer é mais um luxo,
Coisa que não enche o bucho
Quando a fome traz o frio;
Outro inócuo remédio
(Não é bom nem sequer médio);
Faz das lágrimas um rio.
Meu sentir não liga as peças,
Não me cumpre as promessas
De haver reciprocidade;
Estrada sem cruzamento,
Adulto sem seu rebento,
Prefeito sem sua cidade.
Meu pensar é chuva santa,
O que sobra à seca planta
Quando o resto não lhe irriga;
Ladeira que só se desce
No rumo de outra prece
Que se converte em cantiga.